John Lennon expressou na canção “Imagine” os desejos ocultos no recôndito da alma de um sonhador. Um mundo sem guerra; sem pobreza; sem religiosidade; sem fronteiras e sem nenhuma espécie de divisórias, seja étnica, econômica, social ou religiosa.
No mundo corporativo, o sonho da empresa perfeita acompanha, embala, inspira ou perturba a vida de muita gente. Como os poetas costumam dizer, onde não há sonho, não há vida, pois o homem começa a morrer no exato momento em que pára de sonhar. Com toda certeza, o direito de sonhar não pode ser roubado de ninguém. Entretanto, cada pessoa precisa saber que há um mundo concreto, de regras estabelecidas para se viver, muito mais agressivo do que sonhador.
Diante de cada realidade, os sonhos se limitam ou se ampliam. Podemos exemplificar com a vida profissional. O jovem estudante que se prepara para o mercado de trabalho sonha que os conhecimentos adquiridos serão suficientes para resolver todos os problemas organizacionais, além de ser eternamente sustentadores de uma carreira bem sucedida. O recém-contratado sonha que com sua presença na organização tudo mudará, pelo simples fato de ele estar ali.
O consultor sonha que seu diagnóstico e parecer colocarão cada pessoa no seu devido lugar, que os custos baixarão no “overnight” e os resultados começarão a aparecer tão logo ele vire as costas. O palestrante motivacional sonha que sua palavra terá o poder de mudar, imediatamente, todos os tipos de comportamentos. Utopia ou ledo engano?
Quem nunca sonhou com uma empresa perfeita? Onde as políticas não apenas permanecem penduradas nos murais, mas descem ao chão de fábrica e direcionam comportamentos e decisões. Onde os investidos de “comando” não usam de autoritarismo para administrar, mas lideram pelo exemplo. Onde a competência é valorizada e reconhecida em detrimento do tradicional “puxa-saquismo”. Onde a criatividade e iniciativa são incentivadas mais do que o “robotismo” normativo. Onde a recompensa financeira é equivalente ao desempenho e responsabilidade, e não resultado de simpatia e apadrinhamento. Onde o ambiente é carregado de companheirismo, e não “areia movediça”, símbolo de aterramento de sonhos.
Para evitar decepções, uma definição contextualizada do que é uma organização empresarial e também uma vivência prática em diversos níveis hierárquicos, podem ajudar a separar as utopias dos sonhos saudáveis e possíveis. Precisa ficar muito claro para cada trabalhador, que a principal razão de uma empresa existir é a geração de lucros, vindos através da transformação de seus insumos de entrada em saídas de produtos manufaturados ou prestação de serviços, que atendam as necessidades da sociedade e tenham viabilidade comercial. Uma empresa não é um clube social palco de diversão e integração. Não é uma associação beneficente com programas assistencialistas. Não é ONG movida por paixão ou outros interesses.
A experiência profissional vivenciada dentro de uma organização mostra que uma empresa, para alcançar seu objetivo principal, forma sua estrutura baseada em diversos fatores, principalmente da visão dos seus principais acionistas. Como alguém expressou em certa ocasião: “a empresa só será aquilo que seus donos queiram que ela seja, independente de quantos sonhadores possam nela existir”. Dependendo da visão e da estrutura que servem de base para o sistema organizacional, os sonhos poderão se concretizar ou evaporar no final de cada dia de trabalho.
A maturidade profissional chega quando o trabalhador consegue visualizar estas verdades, sem se deixar abater, sem fazê-lo parar de sonhar com melhorias, progressos, aperfeiçoamentos, possibilidades, contribuições significantes, mesmo sabendo, que existem delimitações para todas as coisas.
Certamente não encontraremos a empresa perfeita como estado final, seria exigir muito de um sistema. A perfeição não pode ser definida como um estado, mas como uma busca constante, onde as partes interessadas aperfeiçoam a cada dia suas habilidades, corrigem seus defeitos, unificam suas forças e caminham na mesma direção.
Precisamos, como trabalhadores, reclamar menos e contribuir mais. É necessário refletirmos com mais profundidade sobre nossos desafios profissionais e deixar a superficialidade de meras considerações. Devemos ser menos intolerantes com as falhas estruturais e mais exigentes com nossas fraquezas pessoais. Isto é sair da utopia para o sonho possível, amadurecido por conceitos claros e por vivências práticas dentro das quatro linhas, como dizem os comentaristas esportivos.
John Lennon convida em sua canção, seus ouvintes a ser um “sonhador”, a juntar-se àqueles que sonham e lutam por um mundo melhor. Este mesmo apelo deve ecoar para nós no mundo organizacional, pois as empresas só se tornarão melhores quando as pessoas que as compõem não apenas sonharem, mas, também, unirem-se para este propósito. As diferenças não acabarão, é verdade, mas poderão ser transformadas em motivação para a busca de novos caminhos, de novas relações. Oxalá os sonhos possíveis não sejam isolados, mas compartilhados e difundidos por todos como se fossem “one”.
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